Sojicultura em pequena escala: uma estratégia de reprodução social da agricultura familiar?

Resumo

No Brasil, a produção de soja tem se expandido rapidamente, estando cada vez mais concentrada nos médios e grandes produtores rurais. Na agricultura familiar, este cultivo tem sido marcado, por um lado, por movimentos de profissionalização e especialização produtiva e, por outro, por dinâmicas de exclusão e saída da atividade. Apesar dessas duas trajetórias predominantes, esta pesquisa coloca atenção em contextos em que a soja assume outros caminhos dentro da agricultura familiar. Assim sendo, o objetivo deste estudo é analisar as dinâmicas e os distintos papeis da produção de soja nas estratégias de reprodução social dos agricultores familiares, olhando de maneira específica para os pequenos sojicultores que, ao longo do tempo, permanecem cultivando o grão em áreas inferiores a dez hectares. Para tanto, foi realizada pesquisa bibliográfica e análise de dados secundários, além de pesquisa de campo em Salvador das Missões (RS) em 2003 e 2018, onde foram selecionadas sete famílias de agricultores que continuaram no cultivo da soja em pequena escala durante os dois períodos analisados. Os resultados mostram que, entre as famílias estudadas, a produção de soja tem se mantido presente como parte de um mosaico de múltiplas e interconectadas atividades e fontes de renda. Nestes casos, a soja não promoveu necessariamente um processo de especialização ou de descampenização, sendo parte de um conjunto amplo de diferentes estratégias de reprodução social dos agricultores familiares.

Palavras-chave: agricultura familiar; especialização produtiva; soja; Rio Grande do Sul.