O passado que não passa: a instrumentalização biopolítica do trauma franquista pelo Vox e a crise da democracia espanhola (2008-2024)
DOI:
https://doi.org/10.24302/prof.v12.6144Resumo
Este artigo examina os mecanismos biopolíticos por meio dos quais o partido Vox instrumentaliza o trauma histórico não resolvido da Guerra Civil espanhola (1936-1939) e da ditadura franquista (1939-1975), como estratégia central de mobilização política no contexto da crise econômico-financeira pós-2008. Partindo do pressuposto de que o “pacto do esquecimento” da transição democrática espanhola suspendeu e cristalizou, em vez de resolver, o trauma coletivo, argumenta-se que este congelamento produziu as condições estruturais para a reativação programática de imaginários autoritários. A investigação demonstra que o partido Vox não oferece uma elaboração crítica do passado, mas sim sua repetição performativa, mobilizando comunidades emocionais alicerçadas no ressentimento, no medo e na nostalgia. Esta operação reduz a vida política à sua dimensão emocional, um mecanismo que caracterizamos como “vida nua política”. A análise da politização autoritária do patrimônio cultural, exemplificada pelas “Leis de Concórdia” e pelas disputas em lugares de memória, como o Valle de Los Caídos e o Cemitério de Paterna, revela como a soberania contemporânea se exerce mediante a normalização de narrativas autoritárias no espaço público. Ao examinar a dimensão transnacional do fenômeno, por meio da circulação de repertórios memorialísticos, demonstra-se que a instrumentalização do trauma não é uma particularidade espanhola, mas a manifestação de uma lógica biopolítica global. Por fim, conclui-se que a democracia espanhola enfrenta não apenas uma crise institucional, mas uma crise fundamental de elaboração crítica do passado, cuja superação exige a construção de uma memória funcional baseada na verdade, na justiça e na reparação.
Palavras-chave: memória histórica; biopolítica; extrema-direita; franquismo; patrimônio controverso; trauma político
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